domingo, 24 de julho de 2016

Política: A Desocupação do Colégio Mendes de Moraes

  
     O professor orientador do blog deu a sugestão de continuar um mesmo assunto tentando verificar o seu desenvolvimento. Escolhi falar novamente sobre a ocupação do Colégio Mendes de Moraes na Ilha do Governador, que já foi objeto do artigo sobre Educação "Manifestação Ocupa Mendes" em abril de 2016. Escolhi este tema pois durante este tempo novos fatos aconteceram.

     Acompanhamos na Ilha do Governador, a ocupação da escola Mendes de Moraes, a primeira de muitas outras escolas do Rio de Janeiro, que foi ocupada por alunos que queriam melhorias na educação de uma forma geral e também na própria escola.
   
     O colégio permaneceu ocupado por cerca de dois meses. Durante este tempo também foi criado um movimento chamado "Desocupa Já".  Houve confronto entre os dois movimentos e divergência com a Secretaria de Educação.

     O dia do anúncio da desocupação foi marcado por conflitos sérios e culminou com o pedido de exoneração do chefe de gabinete da SEEDUC  (Secretaria Estadual de Educação), seguido também do afastamento do próprio Secretário de Educação, por causa do conflito que aconteceu na escola. A escola foi desocupada, mas continua ainda com vários problemas.

     Entrei em contato com um dos líderes do movimento #OcupaMendes, João Victor Taus para saber mais sobre o movimento estudantil e o que fez os alunos participarem destes atos de ocupação.

     João Victor,  que tem 19 anos e cursa o terceiro  ano do ensino médio, contou que nunca participou de um movimento estudantil antes. Ele afirmou que só havia participado dos atos anteriores que levaram à ocupação.

     O colégio Mendes de Moraes é uma escola pública antiga e reconhecida pela comunidade. A sua ocupação foi a primeira de todas as escolas do Rio de Janeiro.  Segundo João Victor, os principais motivos que levaram à ocupação foi o descontentamento com o ex-diretor,  a falta de diálogo e falta de atendimento às reivindicações feitas, nas palavras do próprio João Victor: " - Precisávamos de uma forma de sermos notados!"

     Os alunos não concordavam com a divisão das turmas, o que João explicou em detalhes:  " - É verdade, as quatro primeiras turmas de cada ano tinham os melhores professores, tinham acesso a toda infra estrutura da escola e as outras turmas tinham falta de professores quase todas nunca tinham ido no laboratório e à sala de informática!"

     João Victor explicou que a ocupação foi organizada com antecedência, e que eles se revezavam no colégio e se mantinham com doações da comunidade e que depois da desocupação, o que sobrou das doações foi encaminhado para outras escolas ocupadas.

    Quando perguntaram se havia algum algum partido político por trás do movimento #OcupaMendes, João negou:  "-  Não, essa foi uma das principais mentiras ditas, nós fomos visitados sim, muitas vezes por pessoas e personalidades de vários partidos diferentes, e nossa ocupação sempre foi muito visitada por varias pessoas, movimentos também tinham vários, que nos visitavam, e nós lidamos com muitas entidades estudantis na ocupação como ANEL, AERJ,UBES, AMES RUA, entre outras."

     Segundo João o desejo por um ensino de qualidade é comum de todos os alunos. Ele acredita que os conflitos entre #Ocupa e #Desocupa foram alimentados pelas autoridades.

     Depois dos conflitos violentos, com a mobilização da policia na porta do colégio e muitos danos ao patrimônio público, imagino que ocupação passou a causar problemas para a comunidade que antes os apoiava.  No entanto, João Victor negou: - " Pelo contrário , sentimos um apoio maior da população e até mesmo vizinhos da escola, eles estavam preocupados conosco, mas não deixavam de nos apoiar, certa vez alguns desses vizinhos ficaram na porta da escola pra impedir a entrada do desocupa e os mesmos foram agredidos e hostilizados , e muitos desses vizinhos nos ajudavam com doações e muitas vezes ligaram para a polícia para nos ajudar!"

     Quando foi indagado sobre a participação do SEPE (Sindicato dos Professores)  na ocupação, João Victor explicou: - "Muitas das nossas reivindicações , eram iguais as dos professores , o SEPE ajudou muito com doações, e apoio até mesmo jurídico quando necessário, e psicológico também."

     Finalmente, sobre o dia da desocupação, perguntei se João achou que a situação fugiu ao controle. Sobre esse dia João disse: "- No dia da desocupação, não, nós estávamos bem organizados planejamos e executamos tudo da forma que nós queríamos, limpamos a escola, arrumamos as salas recolhemos nossas coisas e puxamos a coletiva de imprensa ..."

     Segundo João Victor, o Mendes ganhou com a ocupação: "- Nós ganhamos uma voz que não tínhamos, ganhamos alguns direitos que eram privados a nós, e nossa luta ainda não acabou, continuamos lutando para o resto da nossa pauta ser cumprida! Mas uma das nossas principais vitórias foi a exoneração do nosso ex-diretor."   Apesar disso,  "- As aulas foram retomadas, mas muitas turmas não tem aula e outras tem uma aula na semana, ou duas aulas, por conta da greve. Infelizmente algumas pautas não foram cumpridas pela secretaria e continuamos lutando para as mesmas serem cumpridas. Infelizmente também a direção temporária que está a frente do colégio, se tem posto contra os ocupantes e beneficiando os desocupa, e trazendo um clima de rixa entre os grupos. No inicio se teve muitas ameaças e algumas discussões e esse clima se mantém."

     Diante deste triste cenário apresentado pelo João Victor, só nos resta esperar que a greve acabe, que o Estado pague os professores e que a Secretaria de Educação atue diretamente para acabar com a discórdia entre esses alunos que entraram em conflitos. Enfim,  que alunos, professores, pais encontrem a paz.

Fontes:
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2016/05/chefe-de-gabinete-da-educacao-do-rj-pede-exoneracao-do-cargo.html
Entrevista, por e-mail, com o aluno João Victor.